terça-feira, 25 de novembro de 2014

Fórmula 1 - Decadence avec elegance

Texto feito para a disciplina Redação para Internet da 3ª fase do curso de jornalismo da UFSC

Desde a sua criação em 1950 a Fórmula 1 é considerada a categoria mais importante do automobilismo. Pilotar um bólido da F1 é o sonho da enorme maioria dos pilotos do mundo. Ou pelo menos era, já que muitos hoje estão decepcionados com o rumo que a categoria seguiu. Não basta ter talento, tem que trazer patrocínio, afinal, a Fórmula 1 é uma competição de luxo e glamour, está caríssima. Vale mais a pena correr na Indy, DTM, Endurance ou na recém criada Fórmula-E, categoria para fórmulas de motor elétrico.

Em 2000 haviam 11 equipes na Fórmula. 7 delas não existem mais hoje. 5 venderam a "vaga". Jordan virou Force India, Jaguar virou Red Bull Racing, Benneton hoje é a Lotus, BAR-Honda é a Mercedes e Minardi é a Scuderia Toro Rosso. Prost Gran Prix e Arrows fecharam a porta. Do ínicio desse milênio até hoje, nasceram Toyota, Super Aguri, Hispania e Marussia. Esta última fechou a porta recentemente. Caterham que entrou em 2010 junto com Hispania e Marussia, está respirando com a ajuda de aparelhos. Toyota não aguentou a crise global de 2008 e a Super Aguri ficou uma temporada e desistiu depois de fazer quatro corridas na sua segunda.

A F1 é um dos esportes mais caros do e lucrativos do mundo, e isso se deve ao chefão Bernie Ecclestone. Bernie era chefe da equipe Brabham na década de 70 e 80 além de líder da Formula One Constructor's Association (FOCA). Nos anos 80 ele, como presidente da FOCA, entrou em guerra com a Fédération Internationale du Sport Automobile (FISA). Alguns dos vários motivos eram a imparcialidade da FISA em relação aos times maiores - Ferrari, Renault e Alfa Romeo -, o regulamento técnico e os aspectos comerciais do esporte.

Balestre (esquerda) e Ecclestone conversam no GP de
Mônaco em 1981.
Na verdade a guerra de Bernie era também contra o Jean-Marie Balestre, o presidente da FISA. Balestre conquistou o ódio dos brasileiros em 1989, após desclassificar Ayrton Senna no GP do Japão. Sem essa desclassificação, Senna teria chances de ser tricampeão caso vencesse na corrida seguinta e Alain Prost, amigo pessoal de Balestre, vice. Com a decisão exclusiva de Balestre, Prost conquistou seu terceiro título e Senna ficou em segundo. "A melhor decisão é a minha decisão!", falou Balestre para Senna. Agora que você já tem uma noção do nível de ditadura de Balestre, vamos voltar para a Guerra.

A F1 funcionava assim: A FISA regulava o esporte, os autódromos negociavam uma data para as corridas e a FOCA distribuía os diretos televisivos para a equipe. A treta foi que a FISA começou a alterar umas regras, como os carros com efeito asa-solo e freios resfriados com água, o que emputeceu as equipes privadas. As equipes de fábrica (Renault, Alfa Romeo e Ferrari) tinham os poderosos motores turbo, enquanto os "garagistas" usavam V8 da Ford que tinham a mesma configuração dos motores de 67. "Vocês ficam com os turbos e nós tiram nossa vantagem aerodinâmica? Sacanagem!", devem ter pensado todas as equipes privadas. Rolou boicote das fabricantes no GP da Espanha em 80. O que Balestre fez? Desvalidou a corrida para o campeonato. Em 82, no GP de San Marino, foi a vez das equipes da FOCA boicotarem a corrida, achando que o Balestre também invalidaria a corrida. Mas por Deus, esse é Jean-Marie Balestre, um francês que mais parecia um mafioso italiano. Ele manteve a corrida como válida para o campeonato. No fim do ano, o piloto campeão foi Keke Rosberg, da Williams. E a equipe campeã foi a Ferrari, 5 pontos na frente da McLaren.

Depois de muitas desavenças e ameaças de criar um campeonato de fórmulas paralelo a F1, no fim de 1982 a FISA e a FOCA chegaram em um acordo, e com isso, os direitos comerciais passaram a ser geridos pela Formula One Group (FOG), criada por Bernie Ecclestone. Os lucros passaram a ser divididos mais "justamente" e as equipes concordaram em participar de todas as corridas sob multa. Até então era comum algumas equipes não viajarem para corridas fora da Europa. Alguns anos mais tarde, em 1991, Max Mosley, conselheiro legal de Bernie durante a guerra, foi eleito presidente da FISA. Em 1993 a FISA foi extinta e Mosley assumiu a presidência da FIA. Era o início de uma parceria maravilhosa para Bernie e Mosley.
Bernie Ecclestone e Max Mosley, a dupla dinâmica que fez
da F1 um negócio lucrativo (mais para eles)

Quando exisitia, a FOCA, no caso Bernie, ficava com 23% dos direitos televisivos. Hoje a Formula One Management (FOM), parte da FOG, cuida disso e fica com 49% dessa fatia. 1% vai para as equipes e o resto, 50% vai para a FIA. A FOM também recebe as taxas pagas pelos promotores. "Em compensação", ela paga os prêmios dos Grand Prix e dos 10 melhores colocados no mundial de construtores e pilotos.

Anos 2000

Mas a vida... Ah, a vida... Essa coisa é uma grande ironia. Em 2009 a Formula One Team Association (FOTA, fundada um ano antes) entrou em guerra com a FOM quando foi sugerido o teto orçamentário. Em 2007 começou o início da crise financeira, o estouro da bolha veio em 2008. O teto pareceu (e parece) uma grande ideia. Não só para fazer com que as equipes não vão a falência, mas como também para criar um cenário mais justo na competição. A Ferrari é a equipe mais rica do grid. Obviamente tem mais para gastar do que uma equipe privada, como a Force India. O problema é que as equipes ricas não queriam teto orçamentário, então Ferrari, BMW Sauber, Toyota, Renault, Red Bell e Toro Rosso anunciaram que saíram da Fórmula 1 e montariam sua própria competição de Fórmula. Similar aos anos da guerra FOCA-FISA, uma nova disputa política e de interesses surgia na F1, mas dessa vez, o vilão era Bernie. No fim da história, nenhum time desistiu da categoria. Na verdade entraram quatro. Mas na verdade mesmo, entraram três. A USF1 faliu antes mesmo da temporada começar. As três equipes que entraram foram Team Lotus, Manor e Hispania. Enquanto essas equipes entravam, a Toyota desistia da F1.
Membros da FOTA. Tutti buona gente

Sempre foi normal a saída e venda de equipes da F1, mas junto com o enorme avanço tecnológico, crise financeira e os altos custos do esporte o cenário da F1 é grave. A Hispania faliu em 2012, Marussia faliu este ano mas pode voltar com investidores (mas a situação está mais para não voltar) e a Caterham (que entrou como Team Lotus) ficou sem correr no Brasil e nos Estados Unidos, fez vaquinha na internet e com a ajuda do Bernie e de outras equipes (que deram equipamentos) conseguiu correr em Abu Dhabi. As equipes médias do grid, Lotus, Force India e Sauber, também passam por aperto financeiro e chegaram a ameaçar um boicote no GP de Austin e de São Paulo. As três equipes convocaram uma reunião com Bernie e falaram que havia a formação de cartel na F1. Essas equipes exigem uma distribuição igualitária dos direitos comercias e a criação de um teto orçamentário para que possam competir no mesmo nível que as outras equipes. A reunião aconteceu, mas ainda não sabemos o que ficou decidido.

Quem combate monstros deve ter cuidado para não se tornar um, e é isso que vem acontecendo com Bernie Ecclestone. Primeiro ele disse que "talvez" ele tivesse uma parcela de culpa na crise da Caterham e Marussia. Depois mudou de ideia e que a culpa era das equipes que não sabiam administrar o negócio. Outro problema é que a F1 vem perdendo a audiência no mundo todo. As equipes mais ricas monopolizam a competição e acabam diminuindo - muito - o fator surpresa das provas. Neste ano, por exemplo, a Mercedes venceu 16 de 19 corridas.

Equipes que venceram GPs desde 2010

Red Bull: 44
Mercedes: 20
McLaren: 18
Ferrari: 11
Lotus: 2
Williams: 1

"Prefiro os velhos de 70"

As equipes em crise, a F1 perdendo público e Bernie ignora a internet. É raro encontrar vídeos da F1 na internet. A FOM entra com pedido para apagar todos. Twitter? Nem pensar. Em comparação, a MotoGP e o World Endurance Championship (WEC) são ativas nas redes sociais e produzem material exclusivo e de graça, como entrevistas com pilotos, chefes de equipe e highlights das corridas. A MotoGP tem highlights dos acidentes e slowmotion.

Com o melhor social media da F1, a Lotus respondeu com estilo as declarações feitas por Bernie Ecclestone
Para Bernie, é melhor fazer a F1 para o rico de 70 anos do que o jovem de 15. Claro, uma pessoa de 70 anos tende a ter um poder aquisitivo, mas fidelizar um fã de 15 anos também é importante, já que, se tudo der certo, ele pode chegar aos 70 anos.

<blockquote class="twitter-tweet" lang="en"><p>Just in case you were wondering... we love social media at McLaren &amp; we love young <a href="https://twitter.com/hashtag/F1?src=hash">#F1</a> fans too! <a href="https://twitter.com/hashtag/McLarenNextGen?src=hash">#McLarenNextGen</a> <a href="http://t.co/KCOqaUuzNI">pic.twitter.com/KCOqaUuzNI</a></p>&mdash; McLaren (@McLarenF1) <a href="https://twitter.com/McLarenF1/status/533253062702686208">November 14, 2014</a></blockquote>
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A McLaren foi outra que respondeu Bernie Ecclestone de maneira divertida.

Com o possível grid de 18 carros para a próxima temporada, a direção da F1 quer que as equipes grids alinhem três carros. Mas não seria melhor fazer o oposto? Permitir que equipes menores alinhem um carro. Isso era permitido na década de 70 e 80. Pensem: podendo alinhar um carro, a equipe investiria a maior parte do dinheiro em um bólido e não dois, podendo até deixá-lo competitivo. Junto com isso, a FOM deveria criar um teto orçamentário. Não resolveria tudo, muito menos de maneira rápida, mas já é um começo.

Já na questão da popularidade e mídias sociais, Bernie disse que sabe que tem que levar a F1 para elas, mas não sabe como. Bem, ele não precisa saber, ele só precisa contratar os responsáveis pela social media da McLaren ou Lotus. Em relação ao youtube e vídeos na internet, ele pode seguir o exemplo da MotoGP. Vídeos das batidas? Isso faz sucesso, pois como diz Piquet...

"A maioria do pessoal que vê uma corrida de Fórmula 1 quer ver mesmo é trombada e capotagem, quer ver o circo pegar fogo."

A F1 é um esporte caro e só os bem investidos conseguem sucesso, mesmo decadente na audiência (que ainda se mantém alta) ela ainda movimenta milhões e tem um público fiel. Os anos dourados podem voltar, mas não serão como os anos dourados da década 70, quando a F1 era romancista. E por romancista eu digo como o estilo literário. A paixão por velocidade causava muitas mortes naquela época.

Mas sem dúvidas, os maiores avanços da F1 aconterão quando o Bernie Ecclestone sair do comando da FOM. Christian Horner, chefe da Red Bull Racing é cotado para substituí-lo. Se ele manter a postura que tem na Red Bull, a F1 estará bem encaminhada para voltar a ser popular e agradar a maior parte dos gregos e troianos.

domingo, 23 de novembro de 2014

Morto-vivo: Marussia decreta falência mas ainda pode correr em Abu Dhabi.

Texto feito para a disciplina Redação para Internet da 3ª fase do curso de jornalismo da UFSC

Na semana passada a Marussia decretou a falência oficial. Após o GP de Sochi, a administração da equipe de F1 foi passada para administradores legais. Esses administradores decidiram se retirar do GP de Austin e do Brasil como uma forma de tratamento paliativo para a saúde financeira de empresa. Nenhum comprador louco o suficiente apareceu nesse período e a simpática equipe anglo-russa fechou as portas no dia 07, deixando também 200 funcionários desempregados.

"Morto! Vivo! Morto! Morto! Morto-vivo!" LOWDON, Graeme
Sem esperar a vela de sete dias terminar, o chefe da equipe Graeme Lowdon anunciou que a equipe pode alinhar seus carros no GP de Abu Dhabi. A volta da Marussia F1 Team ficaria por conta de um grupo de investidores. Mas Lowdon garante que o objetivo é voltar em 2015. O principal investidor da equipe era a Marussia Motors, a primeira montadora de supercarros da Rússia, que faliu em abril deste ano, enquanto a verdadeira dona da vaga da Marussia F1 Team na Fórmula 1 é a Manor Motorsports, equipe britânica que compete na GP3, Eurocup Formula Renault e revelou pilotos como Kimi Raikkonen e Lewis Hamilton. A Manor ganhou a vaga na F1 em 2009.

Manor Grand Prix: 2009 - 2014 (ou não)

Desde que foi aceita na "nobreza" do esporte automobilistico, a Manor nunca correu com seu nome de inscrição, Manor Grand Prix. Começou como Virgin Racing no seu primeiro ano de competição, 2010, por conta do rico patrocínio do bilionário Richard Branson. Em 2012 a Virgin tirou seu cheque gordo e entrou a Marussia Motors, que transformou o time em Marussia F1 Team. Mesmo com essa grande dúvida sobre a equipe zumbi Marussia, o nome Manor F1 Team aparece como uma equipe inscrita para 2015. Outra incógnita é se a equipe bretã que revelou dois campeões da F1 usará o nome verdadeiro ou a situação financeira se manterá tão precária no ano que vem que utilizará o nome do patrocinador-mor.

Além da Marussia, outra equipe que está beirando a falência é a Caterham. Sem nunca ter pontuado desde a sua criação, a equipe foi vendida na metade do ano e está na mão de administradores legais. A escuderia malaia até criou um crowdfunding para correr em Abu Dhabi, na última corrida do ano, e terá seus carros guiados pelos pilotos que pagarem mais - leia "com maior patrocínio". A temporada de 2014 termina neste domingo, dia 23 em Abu Dhabi. Sauber, Lotus e Force India, as equipes "médias" do grid que ameaçaram um boicote no GP dos Estados Unidos, convocaram um reunião com Bernie Ecclestone, "chefão" da Fórmula 1, exigindo a divisão igualitária dos lucros da categoria. Ecclestone fará a reunião no fim de semana do GP de Abu Dhabi.