sábado, 13 de julho de 2013

E se for o Razia?

Comecei a acompanhar Fórmula 1 de verdade em agosto do ano passado, quando tirei minha CNH. Grande prêmio da Bélgica para ser mais exato. Antes eu não tinha paciência para acompanhar, não entendia, achava que era só ter o carro mais rápido e TCHANÃ! Você ganhava. Hoje sei que não é assim. Tem que ter talento também. O que eu acompanhei de F1 antes disso foram notícias e resultados. Notícias que me apareciam, eu não ia buscar.
Grande prêmio da Bélgica de F1 2012. "Esse dia foi louco, fera".

2013, uma nova temporada de F1. Massa fez um belo fim de temporada e parecia teria um ano promissor. Até algumas semanas antes dos testes em Jerez de la Frontera, era só o meu xará representando o HUEzil. Surpreendo a muita gente, a pequenina Marussia anuncia que fechou um acordo com o Luiz Razia. Vice-campeão da GP2 em 2012 e apenas 24 anos. Alegria para a Globo e fãs que assistem esportes pelo fato de possuirem brasileiros.

Tudo estava bem em Jerez. Massa com bons resultados e Razia terminando na frente do companheiro de equipe Max Chilton. Em Barcelona Razia foi cortado dos treinos. Motivo? O patrocinador (Filabé segundo a FoxSports) não depositou uma parte do pagamento combinado para a Marussia. É muito comum na F1 equipes pequenas pedirem verba para que os pilotos dirijam seus carros. Razia disse que em breve o problema seria resolvido e que ele voltaria a correr. Não aconteceu e ele teve o contrato rescindido com a Marussia. No seu lugar entrou o francês Jules Bianchi, protegido da Ferrari.

Ok, mas por que eu estou falando disso meses depois do acontecido?

Ah, sim... Primeiro, só agora eu derrubei a preguiça de criar um blog para mim sobre assuntos variados. Segundo, a reação de milhares de fãs brasileiros da F1 sobre o ocorrido e sobre as críticas com os pilotos brasileiros da F1 desde a morte do Senna.

O último brasileiro campeão de Fórmula 1 foi o Senna, em 1991. 22 anos de jejum. Ayrton Senna, Nelson Piquet e Emerson Fittipaldi são os únicos brasileiros na categoria. Uma coisa que se percebe é que para os brasileiros (pelo menos alguns... Muitos alguns), quando um outro conterrâneo faz sucesso em um esporte e é campeão, apartir do momento que ele se aposentar, o "substituto" dele tem que ser do mesmo nível ou superior. É assim no tênis, no vôlei, no atletismo, futebol, basquete, boxe, e em breve, no MMA.

Eu costumo ler os comentários de algumas notícias no Globo.com por masoquismo. É cada merda escrita que meus olhos costumam sangrar quando eu leio. Vamos nos manter na F1, que é disso que eu tô falando. É muito comum comentários em notícias da F1 do tipo "Fulano é um bosta, bom mesmo era o Senna. Não vai chegar nunca nos pés do Senna".
A cara do Razia depois de ler os comentários sobre sua saída da Marussia no Globoesporte.com

No caso do Razia os comentários mais comum eram "Esse filhinho de papai só tá no automobilismo porque a família tem dinheiro. A mãe dele é grileira na Bahia e foi presa". Pelo que eu sei, Senna também é de uma família rica (mas não de grileiros). Aliás, não sei de nenhum piloto de F1 que veio de família pobre, pauperríma, daqueles casos que quando atinge o estrelato, vira matéria no Esporte Espetacular.. Qual seria o correspondente de "Fulano jogava futebol descalço num campo de chão batido perto da sua casa no bairro Poorville, na cidade de Fimdomundopólis, interior do Pará" na F1?  Algo do tipo"Siclano corria de cortador de grama (que pegava do patrão do seu pai) no quarteirão da sua casa, uma rua de terra, quando foi avistado por um olheiro da Gurgel que decidiu levar o garoto para correr na Fórmula Juniores da Gurgel". É, não tem. Não existe projeto social "Piloto do Futuro" como tem os "Craques do Futuro" ao redor do Brasil.

O automobilismo é um esporte caro. Correr na Fórmula 1 é mais caro ainda. Ter uma família rica te ajuda a iniciar no esporte, ir correr na Europa. Atualmente, o único que realmente está na F1 por causa da "grana da família" é o Chilton (e esteve atrás de seu companheiro de equipe, Bianchi, em todas as corridas que os dois terminaram). Seu pai é vice-presidente da seguradora britânica AON. Alguns correram atrás de patrocínio. Razia por exemplo, buscou a Petrobras para tentar uma vaga na Lotus. A Lotus adorou a ideia. O trato seria o seguinte: Eles desenvolveriam um combustível econômico e eficiente para a equipe e o Baiano teria um bólido para pilotar. A Petrobras disse "Olha, até dá, mas isso não fica pronto até 2013". Resultado, Romain Grosjean pegou o lugar dele. Razia reclamou muito da falta de patrocinadores no Brasil. Restou a Suiça, terra da Filabé. Filabé que foi a empresa que deu calote na Marussia.

Por que criticar (tanto) e fazer piada com o Razia se ele é inocente nessa história? E se for o Razia o piloto que vai acabar com o jejum de títulos Brazucas na F1? Qualé, raça... Vamos ser justos. Se ele tivesse um patrocínio bom, ele poderia estar na F1 e, quem sabe, numa equipe de verdade. Mal piloto ele não é.
Falta apoio para o automobilismo no Brasil. Tanto para pilotos quando para as pistas. A etapa da Stock Car em Brasília mostrou uma pista mais zuada que a cara da Regina Casé. Não apenas apoio de empresas, mas de quem acompanha também. As "viúvas do Senna" que vivem presas em uma época da F1 que não voltará.

Foto exclusiva de Felipe Nasr refletindo sobre esse texto.

No momento, outra esperança brasileira na F1 é o Felipe Nasr. Meu xará está em segundo na GP2. O rapaz tem futuro, mas será que quando terminar o ano e for a hora de ir para a Fórmula 1, ele ainda terá o patrocínio do Banco do Brasil ou OGX?
Com o Nasr na F1 e fazendo sucesso, essas duas empresas poderão usá-lo como garoto propaganda. Ele vai negar? Claro que não, ele deve a carreira na F1 para eles. Aliás, uma que tá precisando de um garoto propaganda para atraiar verba é a OGX, né, Eike?

Anyway, meu ponto é que brasileiros tem a feia mania de achar que tem ganhar em todos os esportes, se não o atleta é uma bosta e a culpa é exclusiva dele, e não de fatores externos, como falta de apoio de uma população que quer tudo e quer agora. Ninguém vira campeão de noite pro dia. Isso me lembra de um podcast que eu participei no www.mmabrasil.com.br (site onde eu escrevo coisas sérias e de qualidade). Brasileiro não gosta de MMA, brasileiro gosta de vencer. O mesmo cabe na F1 (e em todos os esportes, exceto futebol). Mas como os caras vão vencer numa categoria que o dinheiro é mais importante que o talento sem apoio? Será que o Senna faria o que fez dirigindo uma porra de uma Caterham com o patrocínio da Dolly Guaraná (o melhor)? Se essa galera está tão desesperada por um título brasileiro na F1, eles que deveriam financiar os pilotos.

Espero que tenham gostado do texto, se não, problemas de vocês, cai na porrada comigo então, brother! me desculpem. F1 não é mesmo minha área, minha área é MMA, mas quis apenas compartilhar meus pensamentos sobre esses problemas de falta de apoio pro automobilismo nacional. O problema de patrocínio no MMA nacional não é tão grave quanto no outro esporte pois o lutador pode se destacar sem patrocínio. Ele só precisa de um par de luvas e um tatame para lutar. Quem fornece isso é a organização do evento.

Até a próxima. Para encerrar, uma frase do Jarno Trulli. "F1 virou uma locadora de carros de luxo".